A cara do rock de hoje é a cara do rock de ontem

De tempos em tempos, desde o início dos anos 2000, eu me faço essa pergunta: qual é a cara do rock de hoje? Não imagino dia melhor para tentar responde-la que no Dia Mundial do Rock.

Neste 13 de julho de 2014, eu parei para dar uma olhada nos CDs lançados este ano até o momento que tenho em minha estante: vão desde baluartes como Judas Priest e Bruce Springsteen até nomes considerados novos como Black Keys e Jack White (agora em carreira solo), que bebem assumidamente de fontes dos anos 60 e 70, passando por novos sons que só são conhecidos por aqueles que gostam de garimpar pela Internet.

Há quem pregue que está justamente aí o “futuro da nação rock n roll”, afinal, o cenário independente sempre foi o caldeirão para as novas tendências musicais dentro do estilo rebelde de quase sessenta anos, mas não se engane: mesmo tomando ares oníricos, viajantes, muitas vezes chamados de “post-rock”, esta onda reflexiva e intimista também tem raízes no passado – desta vez, lá dos anos 70/ 80, plantadas e cultivadas por bandas como Joy Division e Pink Floyd. Isso sem falar em novas bandas que revivem o punk inglês, outras que pretendem fermentar uma nova onda do industrial paralela a um grande movimento de grupos por todo o mundo que estão voltando a fazer rock clássico, com guitarras rasgadas e cheias de riffs e escalas a la Led Zeppelin, sem falar do cenário do Heavy Metal que mantém se retro-alimentando à parte com novas bandas que querem apenas evoluir em cima de suas referências…

Já entendeu onde quero chegar? A cara do rock de hoje é a cara do rock de ontem. Gerações que viveram os anos 70, 80 e 90 (e eu me incluo nas duas últimas) ainda estão vivas, saudáveis, produtivas e ainda podem contribuir MUITO para o rock de hoje em dia, enquanto que as novas gerações, o “futuro da nação”, está bebendo dessa fonte com uma velocidade e um volume que nós, das gerações anteriores, nunca fomos capazes – obrigado, Internet. É natural, e até esperado, que essas misturas de décadas em uma mesma música fosse o resultado do rock de hoje, afinal, não somos nós o resultado de nossas experiências e influências? Pois é isso que a garotada dos anos 2000 e 2010 aprendeu a fazer depois de ouvir Deep Purple, The Smiths e Green Day ao mesmo tempo.

É claro que tem muita coisa sendo produzida por aí que eu tenho gostado e odiado. E isso é uma coisa boa. Considere o século XX como um tempo em que todos os ingredientes foram preparados – o blues, o jazz e o country entre outros estilos que deram origem ao rock em todas as suas vertentes (punk, hard rock, progressivo, heavy metal e tantos mais), além daqueles estilos que sempre conversaram tão bem com ele como o soul e o funk, etc. Agora que essa juventude tem todos esses elementos em mãos, está na hora de usar o século XXI como seu laboratório para misturar tudo isso em suas experiências! É claro que muitas vão dar extremamente errado, resultando em explosões dignas de desenhos animados, mas no meio de tantas tentativas, alguém sempre vai gritar “Eureka!” e lá vamos nós curtir mais uma nova música ou banda ou artista que pode empolgar toda uma geração.

Que me desculpem os meus conterrâneos temporais, que ficam falando que “no meu tempo é que se fazia rock bom, que hoje em dia nada mais presta”, mas vocês ainda não sentiram o delicioso cheiro de velharia que essa geração está produzindo nas explosões de suas experiências em laboratório.

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