Dream Theater: The Astonishing

Estamos diante do álbum mais audacioso do Dream Theater de todos os seus quase 30 anos de carreira. Em tempos de consumo imediato e rápido de música, onde as pessoas só querem ouvir hits de, no máximo, quatro minutos de bandas sortidas com melodias fáceis, o quinteto americano lança uma obra conceitual, com arranjos complexos e grandiosos como se fosse a trilha sonora de um filme de ficção científica – por isso mesmo, essas canções não funcionam sozinhas. Para que cada uma delas faça sentido e a obra seja devidamente apreciada, é preciso ouvir todas as 34 faixas deste álbum duplo!

Os arranjos complexos citados acima já não são novidade para a banda ou seus fãs, bem como a criação de trabalhos conceituais – eles já nos presentearam com títulos como Scenes from a Memory, Six Degrees of Inner Turbulence e a mega-faixa A Change of Seasons, composta na época do álbum Images and Words, mas que foi lançada em um EP a parte. O que faz de The Astonishing uma “opera rock” ainda maior que os exemplos anteriores é o fato de que ele foi, desde o início, planejado pelo guitarrista John Petrucci para ser uma espécie de filme de aventura fantástica contada em forma de música, ou seja, a história vem antes das canções, que servem como veículo para a narrativa, e não o contrário. Por isso ele e o tecladista Jordan Rudes (as mentes motoras por trás de tudo) contaram com a ajuda do maestro David Campbell para criar os arranjos de coral e da Orquestra Filarmonica de Praga, elementos que dão um ar ainda mais épico.

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Uma história que, diga-se de passagem, se fosse realmente filmada e levada para as telonas, teria grande potencial de transformar-se no “blockbuster” do verão, com direito a efeitos especiais explosivos, cenas de ação e uma mensagem de esperança: estamos no ano de 2285, quando o mundo é oprimido pelo tirano governo do Grande Império do Norte das Américas – a Milícia Rebelde de Ravenskill, que luta contra o Imperador Nafaryus, enxerga no jovem Gabriel a esperança de colocar um fim ao regime totalitário, pois este nasceu com o “dom da música”, uma espécie de poder espiritual manifestado através da criatividade artística que pode ser decisivo nessa guerra (qualquer semelhança com uma certa “Força” não é mera coincidência).

Sim, já vimos esse tipo de história inúmeras vezes na telona, mas contar algo desse nível apenas com músicas, sem nenhum recurso visual enquanto essas faixas são tocadas, requer um cuidado especial, pois há o risco de, como música, o álbum não funcionar. Um risco que quase acontece, pois, se você não está inteirado de toda essa premissa da saga de Gabriel e sua milícia contra o Grande Império de Nafaryus, The Astonishing pode soar cansativo, chato e brega em muitos momentos. Mais do que todos os outros títulos da banda, este álbum precisa ser degustado, apreciado com a atenção que você dedica ao ler um livro para entender a grandiosidade do projeto e, definitivamente, não serve de “fundo musical” enquanto faz outra coisa.

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A ficção científica do guitarrista John Petrucci (à direita na foto) resultou no álbum mais audacioso do Dream Theater.

Sabendo disso, o Dream Theater passou o segundo semestre de 2015 realizando uma campanha para o álbum que convidava os fãs a visitarem este mundo distópico antes do lançamento do CD. Através do hotsite, você fica por dentro da história em geral, conhece melhor cada personagem apresentado (destaque para os perigosos NOMACS), imagens de locais como a vila de Rivenskill e o palácio do imperador e inúmeros elementos para criar em sua mente o cenário do “filme” que será impulsionado pela imaginação enquanto ouve as 34 faixas épicas deste excelente, porém arriscado, novo trabalho do Dream Theater – exatamente aquilo que os fãs esperavam deles há muito tempo…

Dream Theater
The AStonishing
Gravadora / Selo: Roadrunner Records
Nota: 8