Gotthard cai em sua própria armadilha com “Silver”

Você já deve ter ouvido essa história antes: uma banda está na estrada há alguns anos fazendo shows, compondo músicas, lançando seus primeiros trabalhos quando, de repente, tomada por uma inspiração e tanto, lança um álbum incrível, que a impulsiona para as graças do grande público e da mídia e a faz alcançar o sucesso sonhado. O grande desafio, agora, é fazer um disco seguinte que seja tão bom (de preferência, melhor, pois o público e a mídia são exigentes e estão de olho) que o tal trabalho que os fez chegar aqui. Depois de 25 anos de muito sucesso e com uma estrada e tanto já percorrida, o Gotthard passa exatamente por isso, de novo, com Silver.

O atual trabalho da banda sueca formada por Nic Maeder (voz), Leo Leoni (guitarra), Freddy Scherer (guitarra), Marc Lynn (baixo) e Hena Habegger (bateria) tem a difícil tarefa de vir logo depois do aclamado e excelente BANG!, de 2014, que fez os caras chegarem, pela primeira vez, no topo das paradas de sua terra natal, além de se encontrarem nas 10 primeiras posições de listas de audiência em diversos países da Europa e tornar-se ainda mais conhecida fora do velho continente. Como se isso não fosse peso bastante para carregar, Silver também é apenas o terceiro álbum com Nic no vocal, que substituiu o carismático Steve Lee, morto em um acidente de moto em 2010.

A baladinha Stay With Me, que eles adiantaram em 2016, não ajudou muito a superar esse desafio tão difícil.

Silver, por si só, é um disco apenas mediano, com baladas demais e as músicas mais agitadas têm pouco impacto. Junte isso a todos os fatores citados acima que jogam contra ele e você tem um álbum medíocre, desses que você não vai voltar a ouvi-lo tão cedo, com exceção de uma ou duas faixas. Os trabalhos começam bem com Silver River, um hard rock que lembra o estilo do BANG!, seguida de Electrified, um momento alto com seu riff pesado e marcante. A partir daí, a curva começa a cair e só retorna no final, com a divertida Tequila Symphony No.5 e a melhor música da tracklist, Blame on Me, que fecha o álbum transmitindo o clima festivo da banda que queríamos ouvir desde o começo. Destaques também para as duas faixas bônus, Walk On e Customized Lovin.

O Gotthard tem baladas muito bonitas e divertidas, tanto na época de Steve Lee quanto na era Nic Maeder, mas as músicas mais lentas de Silver são forçadas, cheias de “lugar comum”, como a edificante Beautiful e as levadas country Not fooling Anyone e Miss Me. As melosas Reason for This e Only Love is Real ultrapassam o limite entre balada hard rock e romantismo brega.

Em suas “bodas de prata”, o Gotthard caiu em uma armadilha que eles mesmos criaram, não sabendo manter o mesmo nível do álbum anterior que, emblemático em suas carreiras, pôs um ponto final na “era Steve Lee” e os levou às paradas musicais de forma que nunca alcançaram antes. Se você não teve contato com o grupo até o momento (ou pelo menos, com a fase de Nic Maeder), recomendo que procure por outro álbum deles antes de aventurar-se em Silver – caso contrário, você estará longe de conhecer todo o potencial criativo dos suíços.

Gotthard
Silver
Gravadora/ selo: G Records
2017
Nota: 5