iCensura

Trent Razor, o frontman do Nine Inch Nails, faz parte daquela trupe de artistas musicais que pensa e age de acordo com as mudanças do mercado fonográfico e, ao lado daquela investida do Radiohead e das experiências do brasileiro Leoni e do baterista americano Josh Freeze, vive inventando formas de oferecer, pela Web, os novos trabalhos de sua banda. Um lugar onde ele não esperava encontrar barreiras, no entanto, era a Apple – download ilegal? Não: censura.

Razor ofereceu à Apple um aplicativo para o idolatrado iPhone que faria com que fãs da banda pudessem localizar outros fãs e estabelecesse uma interação total entre eles e com a banda. Com esse aplicativo no celular de Steve Jobs, o usuário receberia músicas, datas dos próximos shows e muito mais.

Acontece que todos os aplicativos feitos para o iPhone passam por uma avaliação da Apple e a empresa vetou o aplicativo de Razor porque ele distribuiria, através do aparelho, conteúdo “obsceno, pornográfico, ofensivo ou difamatório” – um dos sucessos da banda, The Downward Spiral possui todos esses atributos aos olhos, quer dizer, ouvidos da Apple.

“você pode comprar The Downward ‘Fucking’ Spiral no iTunes, mas não pode ter a música num aplicativo do iPhone. Vai entender a Apple”, desabafa Razor – e com razão. Não vou dizer que a letra de The Downward Spiral é bonita e singela, bem como boa parte da obra do Nine Inch Nails, mas a mínima coerência diz que, se a música não pode ser veiculada através de um aplicativo para iPhone por causa desses motivos, também não deve ser vendida pela loja online de música digital. Outra coisa: se vamos nos basear nas letras das músicas para censurar ou não determinado conteúdo nas plataformas da Apple, nomes como Nirvana, Eminem e Lily Allen entre muitos outros não poderiam fazer parte do catálogo da loja da maçã.

Entendo como “obsceno, pornográfico, ofensivo ou difamatório” no contrato da Apple uma forma de se proteger contra, por exemplo, filmes explícitos ou algum software que pregue o nazismo e  racismo, mas vetar um aplicativo por conta de uma música que eles mesmos distribuem no iTunes, se não é hipocrisia, é puritanismo exacerbado.

Não tem problema: se o criador do iSnort pode vender este aplicativo de mau gosto para iPhones desbloqueados a 5 libras, não será um veto da Apple que impedirá a criatividade de Trent Razor de pensar em uma solução.

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