“In the Passing Light of Day” é mais que um retorno às origens do Pain of Salvation

A banda suéca Pain of Salvation não tem esse nome à toa: seu criador e principal compositor, o vocalista e guitarrista Daniel Guidenlow, costuma se inspirar em acontecimentos de sua vida para escrever sobre temas fortes e dramáticos, como morte, vida, tormento, religião, crenças, descrenças e superação. Após se tratar de uma grave infecção que contraiu em 2014 e quase o matou, é claro que tais assuntos voltam fortíssimos à pauta no novo álbum, In the Passing Light of Day, o primeiro do grupo em seis anos.

Mais uma vez mudando de formação, Daniel conta agora com Ragnar Zolberg na guitarra (com quem dividiu boa parte das composições, algo inédito para a banda), Léo Margarit na bateria, Daniel Karlsson no teclado e Gustaf Hielm no baixo – esses dois últimos já participaram de formações anteriores da banda, fato que deve ter ajudado para que o atual álbum resgate uma sonoridade próxima dos primeiros trabalhos do Pain of Salvation – pelo menos, é a primeira impressão ao apertar o “play”.

Os ingredientes que conquistaram os fãs da banda são evidenciados logo nas primeiras faixas: o jeito dramático de cantar de Guidenlow em On a Tuesday, as levadas pesadas e cheias de “quebradas” em momentos de Tongue of God, os andamentos arrastados e cheios de angústia e suspense de Meaningless… Mas engana-se quem define esse álbum como um retorno total aos tempos de discos clássicos como Remedy Lane, de 2002, ou The Perfect Element, de 2000.

Como todo sobrevivente de uma experiência de quase-morte, Daniel quer olhar para frente a fim de iniciar uma nova vida, mas sem esquecer o que aprendeu até agora. In the Passing Light of Day é um momento de contemplação: é chegada a hora de a banda toda resgatar o que foi bom em cada fase e descartar o que foi ruim, como a sonoridade dos primeiros álbuns, os momentos mais pesados e líricos de trabalhos como Road Salt One e Road Salt Two (nas baladas melancólicas de Silent Gold e If This Is the End) e os temas nervosos, quase aterrorizantes, da época do Scarsick e do BE (que encontramos em Full Throttle Tribe e Reasons) para criar algo inteiramente novo e mais vívido.

É ótimo saber que uma das bandas mais criativas e líricas da atualidade continua na ativa e produzindo um excelente material como esse após superar uma doença que quase matou seu líder, mas é ainda mais recompensador para os fãs ver que todo o caso fez com que eles olhassem para uma nova direção e construíssem uma estrada com os bons tijolos de seus antigos e diversos caminhos, encontrando salvação através da experiência da dor.

Pain of Salvation
In the Passing Light of Day
Gravadora/ selo: InsideOutMusic
2017
Nota: 7

https://www.youtube.com/watch?v=VhOKR7HkOZ8