Inversão de papéis

Além de gostar muito da banda americana Queensryche, cujo último álbum, American Soldierelogiei por aqui há pouco tempo, admiro e respeito muito o vocalista Geoff Tate como “cabeça pensante” no mundo do rock. Não é a toa que uma declaração do mesmo sobre a atual situação do mundo fonográfico frente à era digital me fez refletir (mais uma vez) sobre o assunto.

Em uma das várias entrevistas que ele vem dando por conta de American Soldier (essa, que eu cito aqui, eu li no site Whiplash), perguntaram a ele, assim como os jornalistas vêm perguntando a todos os artistas musicais, como andam as vendas de CDs e como eles vêm sobrevivendo neste cenário. Tate foi categórico: “não ganhamos mais dinheiro vendendo álbuns. Poucas pessoas conseguem. Ainda amamos o que fazemos e continuamos a fazê-lo, mas o fazemos de forma distinta. O dinheiro vem de outros lugares”.

Na mesma entrevista, ele fala sobre seu encontro com o empresário Doc McGhee, bastante conhecido no meio musical, e fez a ele a pergunta que os jornalistas fazem aos artistas: o que está acontecendo com o mercado musical? O que as gravadoras estão fazendo para mudar isso? “A indústria não está fazendo nada”, disse Doc. “A coisa toda está indo para o banheiro. Vamos ter que achar outros modos para fazer isso tudo voltar a funcionar. (…) você não pode ficar em um único lugar e viver disso para sempre. Não funciona assim. você tem que ir onde a comida está. você tem que ir onde o dinheiro está.”

A banda tem seguido esse conselho e se diz feliz como está hoje fazendo o que muitos outros grandes astros vêm fazendo: uma inversão de papéis. Se, antigamente, eles faziam uma turnê para divulgar um novo trabalho, hoje eles fazem um novo CD apenas para promover a nova turnê, que trará as músicas da nova obra, juntamente com seus grandes clássicos – é das turnês que eles ganham seu suado dinheirinho hoje em dia.

A verdade é que essa ordem não foi invertida: várias entrevistas vêm surgindo em veículos noticiosos de música, principalmente a partir da era Napster, onde os artistas dizem que ganham mais dinheiro dos shows do que da venda dos CDs – quem lucra mesmo com as bolachas prateadas são as gravadoras. A era digital apenas explicitou essa informação ao público, pedra que o polêmico e correto Lobão já cantava há tempos, desde quando brigava pela numeração dos CDs e fundou sua própria gravadora, brigando em pé de igualdade com as majors.

As declarações de Tate são apenas um exemplo de como os artistas estão se virando muito bem diante desta era que eu gosto de chamar de “nova música digital”, seja adaptando-se dentro das velhas regras ou experimentando o ambiente online para inovar e experimentar rumo a evolução do cenário fonográfico a exemplos já batidos como a forma como o Radiohead ofereceu seu In Rainbows ainda são bons cases a se considerar. Os próprios artistas ouviram o conselho do empresário McGhee e estão indo para onde o dinheiro está enquanto gerenciam suas próprias músicas, a forma de distribuí-las e suas carreiras. E as gravadoras? Ainda preocupadas com o download de músicas pela Web enquanto não dão atenção às suas galinhas dos ovos de ouro, que estão aprendendo a andar sozinhas em elas, não devem sair do banheiro pra onde a coisa toda está indo tão cedo…

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