Nos últimos dias de 2014, durante minhas férias em Santos, eis que me deparo com um livro cujo título me chama a atenção logo de cara: Discoteca Básica: 100 Personalidades e Seus 10 Discos Favoritos. A publicação do jornalista Zé Antonio Algodoal estava meio escondida na seção de música da livraria Saraiva da rua Ana Costa, mas não adianta: quem gosta de música simplesmente sente quando algo assim está por perto – é como se a gente sentisse um “distúrbio na Força”, entende?
A premissa do livro de Zé Antonio é simples, mas, nem por isso, de fácil execução (para ele ou seus convidados). O autor entrou em contato com cem celebridades, nacionais e internacionais, ligadas à música e/ ou artes em geral e lhes pediu uma das tarefas mais ingratas para um fã de música: listar os 10 discos mais importantes de sua vida. Neste momento, você pensa “assim é muito fácil, são os outros que escrevem o livro pra ele, o cara só recebe as listas e tá tudo pronto!” Não conheço o Zé Antonio Algodoal pessoalmente e não faço a mínima ideia de como foi o processo de criação do livro, mas na minha experiência de jornalista, posso dizer que contar com respostas/ declarações de terceiros é a pior parte da composição de uma matéria – quem me dera que tudo dependesse apenas de mim. Ao escolher este processo, o projeto se torna, no mínimo, corajoso, pois tem tudo para se tornar um grande fracasso.
Mas não foi – pelo contrário! O resultado é uma deliciosa coletânea de listas de discos de várias décadas (com certa ênfase nos anos 60, 70 e 80) e estilos que variam entre o rock, o reggae, a MPB, o jazz, o eletrônico e outros, refletindo bastante das personalidades dos participantes de variadas profissões, quase todas ligadas à música, como o guitarrista Andreas Kisser, do Sepultura, o produtor Carlos Eduardo Miranda, João Gordo, Clemente (da banda Inocentes), o baixista e vocalista da banda Teenage Fanclub, Gerard Love e alguns ex-VJs da MTV como Gastão Moreira e Luiz Thunderbird, e outras nem tanto, como o chef Alex Atala, os apresentadores Jô Soares e Luciana Gimenez, a cartunista Laerte e o humorista Rafael Cortez – mas mesmo esses podem te surpreender com um lado deles que vocês podem não conhecer.
Ao longo do livro, testemunhamos métodos e critérios diversos que cada convidado adotou para fazer a sua lista, mas sempre adotando o mesmo discurso: como é difícil escolher apenas 10 títulos entre tantos álbuns que marcaram nossas vidas… Mesmo assim, percebemos que alguns “medalhões” aparecem nas listas de quase todos: a turma do rock mais pesado tem sempre Queen (em geral, A Night of the Opera) e Kiss nas suas listas e quem curte um rock mais pop tem SEMPRE Beatles (em geral, Revolver) e David Bowie – Police e Bruce Springsteen também aparecem de vez em quando. Já a turma da MPB elegem, disparadamente, os discos Transa, de Caetano Veloso, A Tábua de Esmeralda, de Jorge Ben (antes de se tornar Ben Jor) e o auto-intitulado de João Gilberto como a nossa santíssima trindade. Os primeiros álbuns dos Mutantes, Novos Baianos e Secos & Molhados também são considerados grandes pilares.
Não vou ficar dando mais spoilers do que já contei por aqui. Zé Antonio deu, de bandeja, uma divertida leitura para os amantes de música e, ao mesmo tempo, uma excelente lista com ricas dicas de títulos excelentes (caso você não conheça algum) para garimpar – uma tarefa que, tenho certeza, todo amante de música adora fazer!
Discoteca Básica: 100 personalidades e seus 10 discos favoritos
Zé Antonio Algodoal
Edições Ideal
2014