Mais popular

É só ler alguns (inúmeros) textos antigos meus ou ouvir o Máquina do Tempo para descobrir que sou, desde minha adolescência, um fã incondicional do trio canadense Rush – daqueles que compra todos os discos, sabe todas as músicas, vibra com cada novidade deles que aparece e é capaz de sustentar uma conversa sobre esse assunto por horas a fio sem repetir conteúdo. Sei que é uma banda não muito popular, do tipo que toca em todas as rádios, cujo clipe passaria a todo instante na MTV e que todo mundo sabe pelo menos que ela existe, como os Beatles, os Stones ou o Led Zeppelin. Sua música é bastante complexa, daquelas que se torna difícil a “digestão imediata” e, por isso, os veículos de comunicação não exploram tanto. Mas ela mantém seu numeroso séquito leal, que mais parece uma fraternidade de roqueiros, e cada vez maior em seus quase 40 anos de sucesso.

Por conta disso, estranhei bastante quando vi esta notícia no site Rock em Geral, dizendo que o senador republicano Rand Paul estaria usando músicas do grupo sem autorização em publicidades na Internet e suas aparições em campanhas – de acordo com o político, para deixar a mensagem “mais popular”.

É fato que o ano de 2010 está sendo muito proveitoso para a banda e essa fase deve durar pelo menos até 2012. Após a turnê do último trabalho de estúdio deles, o fantástico Snakes & Arrows (que rendeu até um DVD), o grupo tirou férias de um ano para voltar com todas as forças: está em estúdio para gravar seu novo trabalho intitulado Clockwork Angels (cujas músicas Caravan e BU2B já foram lançadas em single pela Internet e estão rolando por aí). Iniciarão em breve uma turnê chamada Time Machine onde tocarão todas as músicas do disco mais cultuado pelos fãs, o Moving Pictures, de 1980, para depois voltarem ao estúdio e terminarem o novo trabalho, previsto para 2011. De quebra, eles ainda ganharam o documentário Beyond the Lighted Stage, da dupla Sam Dunn e Scot McFadyan (os mesmos de Metal: uma jornada pelo mundo do Heavy Metal e Flight 666) e vem sendo cada vez mais reconhecidos pelo público menos entendido de rock desde que apareceram no filme Eu te amo, cara, de 2009.

Agenda cheia? Nada diferente da rotina que eles mantém há mais de 30 anos, mas, mesmo assim, a “máquina da mídia” nunca os expôs a ponto de eles se tornarem super-hiper-mega-stars como uma Madonna ou um Michael Jackson. Ao contrário dos ícones do pop, Geddy Lee (baixo, teclado e voz), Alex Lifeson (guitarra) e Neil Peart (bateria) conseguiriam andar pela Av. Presidente Vargas, no Rio de Janeiro, abordados por muitos roqueiros de plantão sim, mas não seriam afogados por um mar de tietes selvagens.

Aparição em blockbuster de Hollywood, documentário sobre eles que ganhou o Tribeca Film Festival, político usando suas músicas sem pedir autorização para “ficar mais popular”… Teria o mundo, finalmente, descoberto o Rush depois de quase 40 anos? Caso sim, o que isso significa? Que o rock mais trabalhado e complexo está, finalmente, conquistando seu lugar ao sol na grande mídia, onde o dinheiro e a visibilidade são infinitamente maiores e mais efêmeros? Talvez sim e isso pode trazer conseqüências boas e ruins para o rock verdadeiramente underground (diferente das bandas ditas “alternativas” que são os novos produtos comerciais de hoje). Um novo e importante capítulo na história do estilo musical mais rebelde de todos os tempos pode começar a ser escrito em breve. E eu quero acompanhar isso de perto.

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