Música: um negócio lucrativo para empresas não-musicais

Cada vez mais, empresas que, a princípio, não tem nada a ver com o mundo da música, investem em novos e consagrados artistas musicais, tornando-se um caminho cada vez mais viável para a sustentabilidade deste mercado nos tempos da nova música digital. É o caso da conhecidíssima Natura, empresa de cosméticos que possui o excelente projeto Natura Musical. Hoje com um portal e um programa de rádio, a atividade da Natura é voltada para a MPB e hoje em dia está até mesmo bancando a produção dos próximos CDs de grandes artistas do estilo como Vanessa da Mata e Carlinhos Brown.

Os anúncios de que o Natura Musical bancará os CDs desses artistas consagrados é recente, mas o projeto em si existe desde 2005 e muito já foi feito através dele. O último trabalho de Lenine, o CD Labiata, e disco do sambista Nelson Sargento, Versátil , fazem parte dos 115 projetos entre produção de CDs, de shows, turnês, ações educativas e até projetos diferenciados como o livro-CD Jongos do Brasil, uma verdadeira aula de antropologia e história do samba.

Artistas consagrados no meio da música procurando por alternativas fora das gravadoras é algo que existe desde que as bandas independentes mostraram que é possível divulgar seus trabalhos sem colocar isso nas mãos de terceiros que cobrarão a fatia maior do bolo para isso. Quando Madonna anunciou, em 2007, que sairia da Warner para assinar um contrato inédito com a empresa de promoção de shows Live Nation, o mundo artístico ficou impressionado. A “rainha do pop” fechou um acordo de dez anos onde ganhou milhões e a Live Nation tem direito sobre os três discos que ela lançará nesse período, organiza as turnês e cuida dos produtos que levam a cara da cantora como musicais, DVDs, sites, etc, centralizando todas as atividades comerciais que rondam um artista em uma única empresa, facilitando a contagem e a divisão combinada das verdinhas entre a empresa-empresária e o artista-produto. A mesma empresa fez propostas semelhantes a outros grandes nomes como as bandas Nickelback e U2, a cantora Shakira e o rapper Jay-Z.

Aqui no Brasil ainda não há empresas de produção de shows interessadas em experimentar esse modelo, mas graças às leis de incentivo fiscal para quem investe em cultura, corporações sem vínculo direto com o mundo da música começam a “namorar” a idéia. É o caso da Natura e também da Telemig, que foi procurada pela banda Tianastácia em 2002. Como a EMI não havia renovado contrato com os músicos após o disco Criança louca, de 2001, eles procuraram uma forma de produzir o trabalho seguinte de forma independente. A empresa de telefonia injetou um capital de quase 50% dos custos da produção de Na boca do sapo tem dente, de 2003 – considerado o trabalho mais importante e estatisticamente o mais vendido da carreira do Tianastácia. Além da Telemig ganhar incentivos fiscais proporcionais ao valor investido no disco, o nome e logotipo da empresa acompanhou a banda em todas as suas apresentações e aparições na mídia, garantindo publicidade extensa. Vale apontar que, logo após o sucesso de Na boca do sapo…, a EMI tratou de chamar a banda de volta e se ofereceu para distribuir o novo CD.

Tudo isso mostra que investir em música e em artistas musicais, sejam eles independentes ou consagrados, pode ser, sim, um bom negócio para todas as grandes empresas, não somente ou necessariamente as gravadoras. Se esses novos modelos de negócio são ou serão prejudiciais à arte em si ou mesmo se darão certo, só o tempo dirá, mas apenas ver que o Brasil está sim procurando alternativas para se reciclar e se adaptar aos tempos da música digital me deixa mais otimista.

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