Não perca a fé na boa música

Os balzaquianos tomaram conta do Citibank Hall na noite de 05 de novembro, com uma aparente calma que escondia a ansiedade e a saudade de assistir a mais um show do Faith No More. A banda que fez as cabeças desses então adolescentes nos anos 90 deixou muita saudade quando encerraram suas atividades após a turnê do CD Album of the Year, de 97. O frontman Patton trabalhou como um louco lançando projetos mil através de sua gravadora, a IPECAC, mas não era a mesma coisa para quem não resistia à tentação de arrancar os próprios órgãos internos com os dentes ao ouvir From Out of Nowhere ou Diging the Grave, entre outras músicas da banda.

Não sei quem era a banda de abertura e também não me interessa. Quando entrei durante a penúltima música do grupo nacional, estranhava o hall vazio, com um público apático. Não estranhei a apatia pela banda de abertura, mas não havia nos olhos aquela chama de ansiedade de ver nosso querido FNM de volta após 10 anos separados. Parecia uma gigantesca reunião de ex-alunos de colégio que não se viam desde os tempos do uniforme escolar e da espinha na cara. Havia sim uma molecada que, mesmo não tendo pego a época em que a banda estava na ativa, conhecia (acredito eu, através dos torrents e P2Ps) e gostava do Faith No More e dos projetos mais famosos de Patton como Mr. Bungle e Fantomas, e algumas figuras que não disfarçavam a cara de “que diabos estou fazendo aqui?”. O pessoal entre os quase 30 e pouco mais que isso era maioria. “Será que estamos velhos demais para isso?”, pensava eu.

fnm_01

Apagam as luzes. Mike Patton (voz), Billy Gould (baixo), Roddy Bottum (teclado), Mike Bordin (bateria) e Jon Hudson (guitarra) entram no palco tocando uma lentra introdução que já deixa todos extasiados mas, ao começar a eufórica From Out of Nowhere, não teve jeito: os balzaquianos voltaram a ter 16 anos no primeiro acorde e o Citibank Hall, agora lotado, vinha abaixo! Os cinco caras, alguns com uma proeminente barriguinha que vem de brinde com a idade, outros com cabelos grisalhos, tocavam ferozmente enquanto Patton se esguelava e o público urrava toda a letra da música junto com ele.

O domínio de Patton sobre o público, como se fosse um velho conhecido de todos nós, já era sabido pelos brasileiros, mas esse velho e doido camarada trouxe algumas surpresas na bagagem desta vez, como uma interpretação totalmente em português de Evidence (diga-se de passagem, Mike conversou com o público em bom português com pouco sotaque de gringo durante todo o show) e uma surpreendente interpretação “jazz/ lounge” de Midlife Crisisno finalzinho desta música. O setlist, para quem conhece todos os CDs do FNM, foi matador: desde clássicos como Epic, a baladinha Easy, a estranha Caffeinee a forte Ashes to Ashesaté porradas absolutas como The Gentle Art of Making Enemies, a terrível (no bom sentido) Surprise! You’re Dead!, a impossível-ficar-parada We Care a Lot no bis e a belíssima King of a Day, com direito a uma viagem altamente psicodélica, entre tantas outras. Para fechar a noite, atendendo a pedidos da galera, eles voltam ao palco mais uma vez (“Só porque estamos tocando no Rio”, disse Mike) para se despedir de nós com Falling to Pieces.

fnm_02

Na última vez que pisei no Citibank Hall antes dessa, a casa de shows ainda se chamava “Metropolitan” e foi justamente para ver Faith No More na turnê do CD King for a Day, Fool for a Lifetime. Saí de lá rouco, com o corpo dolorido, pescoço duro, pernas dormentes e um enorme sorriso no rosto que não conseguia desfazer. Dez anos depois, os efeitos colaterais deste show, no mesmo lugar, foram exatamente os mesmos. Isso é para eu aprender que, não importa a idade, sou ingênuo se, em algum segundo, não tive fé de que um show como esse fosse enlouquecer os brasileiros como sempre fez há quase 20 anos.

http://listen.grooveshark.com/songWidget.swf

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *