Rush: uma viagem temporal pelas vidas dos fãs

Estou escrevendo este texto quase quatro dias após ter assistido ao show do Rush no estádio do Morumbi, em São Paulo. Não, o motivo não é falta de tempo, mas de palavras: ainda não encontrei as frases certas para descrever o que presenciei naquela noite de 8 de outubro de 2010 – e talvez nunca as acharei.

Poderia sim dizer que a apresentação da turnê Time Machine que passou pelas capitais paulista e carioca foram fantásticas, perfeitas e outros adjetivos que você possa pensar, mas estaria sendo óbvio. Poderia dizer que o cenário steampunk, a bateria com detalhes que remetem ao mesmo estilo e a iluminação foram um show à parte, mas isso seria redundante. Dizer também que Geddy Lee (baixo, teclado e voz), Alex Lifeson (guitarra) e Neil Peart estão no auge de seus talentos e mais em casa que nunca no palco também não é nada além daquilo que eles mesmos vêm repetindo nas diversas entrevistas que já deram à imprensa brasileira até chegarem ao país. Nada faz jus ao que meus heróis de adolescência trouxeram para mim desta vez.

E o que eles trouxeram foi um presente incrível embrulhado em uma embalagem encantadora! O vídeo de apresentação que já se tornou parte obrigatória do show, mostra que Lee e, principalmente, Lifeson têm talento também para a comédia enquanto Peart, mesmo levemente desconfortável nas esquetes, também se diverte às custas de seus companheiros de banda – mas se os 40 mil presentes no Morumbi quisessem assistir Rush no cinema, teriam assistido ao documentário Beyond the Lighted Stage nas salas de projeção  – e devem tê-lo feito mesmo quando este passou em sessões especiais pelo país. O que queríamos mesmo era ver e ouvir o trio em ação.

Ouça o Tockaí #008, que resenha o  premiado documentário da banda, lançado em 2010

Abrir o show com Spirit of Radio nos faz realmente viajar no tempo até os anos 80, quando eles abriam todas as suas apresentações com este clássico arrebatador, que já conquista a platéia logo de cara. A viagem segue com paradas em diferentes épocas de sua história, como aquela em que os teclados estavam em evidência com Time Stand Still (cujo teclado do refrão é agora executado por Lifeson), ou para o início dos anos 90 com a “desenterrada” Presto. Salvo exceções, a primeira parte do show trouxe músicas dos discos mais recentes da banda, como Faithless, Stick It Out e uma das duas novas composições, BU2B.

Quem pensa que Rush é um daqueles grupos que se sustenta apenas com os sucessos de outrora surpreende-se ao ver o público indo ao delírio com os sons mais recentes, cantando junto com as letras e também com as passagens complexas dos instrumentos que são verdadeiros orgasmos para os fãs. Tudo isso aliado a grandiosa produção de palco, os vídeos e grafismos que acompanham e algumas câmeras que pegam ângulos incríveis dos três em ação fazem com que a experiência seja única.

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O show da turnê foi planejado em tantos detalhes que sincronizam áudio, vídeo e iluminação que não sobra muito tempo para que o trio converse tanto com o público como aconteceu na primeira vez em que estiveram no Brasil em 2002, mesmo assim Geddy Lee conseguiu algumas brechas para cumprimentar a todos, fazer algumas piadas e demonstrar a simpatia e o carinho que os três adquiriram pelo Brasil e seus fãs.

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10 minutos de intervalo depois, um novo vídeo engraçado sobre a banda dirigindo um clipe de mau gosto de Tom Sawyer anuncia o que vem por aí: a banda volta cumprindo a grande promessa da noite, a de tocar, na íntegra, o disco Moving Pictures – a obra de maior sucesso do grupo inicia-se com seu mais famoso hit, seguido de outros verdadeiros hinos como Red Barcheta, YYZ (que, mais uma vez, leva o público a uma verdadeira catarse), a indispensável Limelight, The Camera Eye (muitos fãs “das antigas” pediam por essa música ao vivo), Witch Hunt e Vital Signs, tudo isso costurado com grafismos e animações que remetem à capa do LP e aos personagens que aparecem nela

Saiba mais sobre esse disco e suas músicas no artigo que foi publicado no site SOS Hollywood poucos dias antes do show

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Extasiado, o público não esperava por mais surpresas: após a segunda música inédita, Caravan, e o tradicional e estupendo solo de bateria de Neil Peart, o trio surpreende os fãs mais fervorosos com arranjos diferentes em determinado momento de Closer to the Heart, seguido de dois hinos da banda, um antigo – 2112 (as partes Overture e Temple of Syrinx); e um novo – Far Cry. A brincadeira dos arranjos se repete com La Villa Strangiato e o início de reggae de Working Man, fechando a noite com chave de ouro. De quebra, mais um vídeo engraçado mostrando a banda encontrando os personagens do filme Eu te amo, cara invadindo seu camarim.

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Em 2002, o Rush me fez voltar no tempo até a época em que tinha 12 anos de idade, quando fui apresentado ao seu som e minha vida mudou completamente. Chorei de emoção por realizar meu sonho de assistir a um show desse trio que abriu minha mente para um mundo musical e cultural fantástico. Em 2010, essa máquina do tempo me traz de volta aos atuais 35 anos e, pela janela, via toda uma retrospectiva de minha vida na paisagem. Uma vida que contou com a companhia desses três canadenses que não me conhecem pessoalmente e nunca conhecerão, mas que fizeram um importante papel para mim de mentores e guias nesses últimos 20 anos com suas melodias, suas letras e seu bom humor. Esse tipo de influência não é sentida apenas por mim, mas por milhões de fãs em todo o mundo e este é o motivo de eles serem tão fiéis ao trio – fidelidade que é retribuída por eles com uma viagem pelo tempo não menos que fantástica como esta que eles proporcionaram. Geddy, Alex e Neil: obrigado por esta excursão pela minha própria vida. Foi emocionante e inesquecível.

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