Quando comprei o ingresso mais barato para o show do Metallica do dia 31 de janeiro, para a arquibancada laranja do estádio do Morumbi, em São Paulo, já fui conformado de que assistiria ao show em uma localidade ruim para quem gosta de curtir eventos como esse no gargalo. Qual não foi minha surpresa quando o portão para a tal localidade estava fechado e todos os pagantes para o setor foram transferidos para o gramado do estádio mesmo! Não sou eu quem vai reclamar dessa falha na organização.
Como não faço questão de assistir ao Sepultura, cheguei faltando poucos minutos para a banda entrar no palco, o que me fez ficar lá atrás, na rampa de entrada – tudo bem, ainda aproveitei o show melhor que se eu estivesse na tal arquibancada laranja e a localização também me deu a oportunidade de dar uma olhada no público presente: era o mais heterogêneo possível. Ao lado da boa e velha tribo dos camisas-pretas que marcavam presença em massa, conviviam bem patricinhas, nerds de camisa social, porra-loucas de todos os tipos e até famílias com crianças – não apenas famílias “metaleiras”, com mamãe e papai vestindo camisa do Metallica, mas aqueles que representam o estereótipo dos pais convencionais e que, mesmo assim, estampavam na cara o entusiasmo pelas músicas. Seja boa ou ruim, o fato é que a “era Load” da banda realmente os popularizou. Metallica agora é uma banda pesada para toda a família. E isso é uma coisa boa.
Mesmo tendo conquistado essa simpatia de todos, eles anda sabem fazer um grande show e, nesse domingo, eles mostraram que não vieram para brincar. Logo depois da introdução do tema do filme Três homens e um destino com direito a cenas do filme, o quarteto começa logo com Creeping Death e emenda com Ride the Lightning, ambas do disco que leva o nome dessa segunda música, um dos mais pesados e dos meus preferidos! Em seguida, eles entram com Fuel, do CD Reload – e essa é a única música que eles tocam da fase que compõe os três discos que os fãs mais antigos não gostam: Load, Reload e St. Anger. O resto do repertório é composto apenas por músicas do último trabalho, Death Magnetic, e do “álbum preto” para trás. Porradas como Fight Fire With Fire, Master of Puppets e Welcome Home – Sanatarium marcaram presença e músicas do álbum preto, como Sad But True (que o grupo dedicou ao Sepultura) e Nothing Else Matters foram excelentes respiros para ajustar a adrenalina entre tantos clássicos antigos e novas porradas como That Was Just Your Life, The End of the Line e My Apocalypse.
Dois pontos altos do show, com direito a fogos de artifício e chamas gigantes nas laterais do palco, foram a clássica One, quando o telão ficou todo em preto e branco como o clipe da música, e Enter Sandman, que fechou a parte principal da apresentação. James Hetfield (guitarra base e vocal), Lars Ulrich (bateria) e Kirk Hammett (guitarra solo), apesar de estarem em boa forma, mostram-se velhos e cansados no palco, sem aquela energia que demonstravam nos anos 80, mas eles continuam se divertindo muito, principalmente ao lado do baixista Robert Trujillo, recém-chegado para dar uma rejuvenescida no grupo com sua cara de latino psicótico enquanto empunha seu baixo com fúria.
Após voltarem ao palco para mais duas covers, eles fecham o show com Seek and Destroy, do primeiro disco, Kill em All, encerrando a apresentação com chave de ouro para os fãs antigos, que prezam pelos álbuns dos anos 80, e para os novos, que mostraram ter gostado das “porradas” que, em tempos idos, nunca tocariam em seus CD Players. Definitivamente, Metallica é pop. E Metal. E isso combina com eles.