2016 chegou fazendo uma faxina no mundo do rock: “Abaixo ao velho. Vamos dar lugar ao novo”, disse o ano novo levando embora, ainda em janeiro, grandes nomes como Bowie, Lemmy (esse ainda no finalzinho de dezembro de 2015), o baterista do Mott The Hoople, Dale Griffin, o guitarrista e cantor do Eagles, Glen Frey…
Ok, as pessoas envelhecem e morrem, este é o ciclo natural da vida e os astros do rock não estão imunes a esta lei (tirando Keith Richards – ele vai enterrar a todos nós), por mais que queiramos. Nós, fãs, temos a mania de esperar que novas gerações já estejam prontas para assumirem os lugares desses grandes nomes que partem à medida que forem nos deixando, algo parecido com o esquema de cadeiras marcadas da Academia Brasileira de Letras (o jornalista Zuenir Ventura, por exemplo, ocupa hoje a cadeira de número 32 que, antes, foi de Ariano Suassuna, Genolino Amado, Joracy Camargo…). Ainda estamos bem servidos de “lendas” dos anos 80 e até mesmo dos anos 90 se você for um pouco mais pernicioso, mas, quem dos anos 2000 / 2010 assumirão as cadeiras de Lemmy, Bowie e Frey na “Academia do Rock”?
Com a atual forma de consumo de música proporcionada pelo ambiente digital, não teremos mais “pesos pesados” como esses. Chega de grandes heróis como Hendrix, Mercury, Joplin, de bandas que marcarão história como Stones, Zeppelin, Iron Maiden. Novos talentos como esses podem vir a surgir no futuro, dentro das referências culturais de suas próprias épocas? Claro que sim! O que não existe mais é o alcance maciço de uma mídia concentrada (trabalho feito, na época, pelas grandes gravadoras) ou o foco de um único público neste único artista (cujas grandes gravadoras jogavam seus holofotes) para prestar atenção neles por mais de três minutos para que se fixem nos corações de todos e na história da música do jeito que os “monstros do passado” se fixaram.
Em tempos de streaming, há, quase que literalmente, oceanos inteiros de músicas para se conhecer em um clique. Some isso ao fato de que as gerações atuais não conseguem se concentrar em um mesmo assunto por mais que poucos minutos e você já imagina o que acontece: depois que os gostos básicos dessa pessoa já estão formados (e, lá, as vertentes de rock bandas preferidas do indivíduo já foram selecionadas e cravadas em pedra), quaisquer bandas que ele for conhecendo a partir de agora terão cerca de duas músicas para agradar aos seus ouvidos antes de dar a oportunidade de ouvir seu álbum uma ou duas vezes antes de esquecê-la e voltar-se para os seus conjuntos preferidos de novo. Se essa banda nova entrar para o hall dos sons que ele passará a ouvir frequentemente, parabéns: ela tem realmente algo em especial.
Essas são as regras do jogo atualmente para conquistar um ouvinte (e, quem sabe, um fã): ter aquele “algo a mais” que agrade a um público que está cada vez mais pulverizado. E como fazer para agradá-lo? Que jogada de marketing infalível que aprendemos com as “majors” deve ser feita para dar certo? A resposta é: nenhuma. Nos dias de hoje, o mais indicado é, justamente, esquecer os “esquemas” das grandes gravadoras, que se viciaram em criar as tendências da próxima temporada, e ser honesto com seu som, criar e tocar aquilo que você gosta e quer fazer. Certamente encontrará alguém que está a fim de curtir a mesma proposta que você tem a apresentar e vai passar a ouvir seu som no Spotify e assistir aos seus shows – pode não ser um público grande o suficiente para encher um estádio de futebol, mas ei: para eles, você se tornou um “Acadêmico do Rock”! Parabéns!