No próximo dia 8 de abril, o Rock n’ Roll Hall of Fame incluirá, finalmente, as bandas Deep Purple e Cheap Trick em seu ilustre panteão de grandes nomes que representam o estilo. Na mesma cerimônia, também serão nomeados para o hall os grupos Chicago e N.W.A. e os artistas Steve Miller e Bert Berns. Grandes astros celebração essas indicações em um evento beneficente que os reunirá em um único palco.
De acordo com o próprio Hall of Fame (em uma tradução livre), “Para ser elegível para o convite como artista (intérprete, compositor ou músico) no Rock and Roll Hall of Fame, o artista deve ter lançado um registro, no sentido geralmente aceito da frase, pelo menos 25 anos antes o ano do convite; e demonstrar excelência musical inquestionável. Consideramos fatores como influência musical do artista sobre outros, comprimento e profundidade da carreira e do corpo de trabalho, inovação e superioridade em estilo e técnica, mas a excelência musical será a qualificação essencial do convite.”
Trocando em miúdos, o primeiro trabalho da banda (geralmente, o seu primeiro álbum) deve ter sido lançado há, no mínimo, 25 anos, certo? Se estamos em 2016, para o artista/ banda ser, hoje, “elegível” para entrar no RRHF, seu disco de estreia tem que ter sido lançado, no máximo, em 1991 (fez as contas aí?). Puxa vida, será que o Deep Purple, que teve seu primeiro álbum lançado em 1968 (48 anos atrás) não demonstrou excelência musical até 1993 (ano em que o álbum de estreia do grupo completou 25 anos de lançamento)? Ou será que eles não influenciaram ninguém até então? Talvez sua inovação ou “superioridade em estilo e técnica” não eram suficientes até 2016… Ah, ok, então você desconsidera os três primeiros álbuns da banda, com Rod Evans no vocal, e quer começar a contar a partir do In Rock, o primeiro com Ian Gillan à frente? Ok, então vamos considerar que o Purple que conhecemos teve início em 1970 (46 anos).
O Cheap Trick, que teve seu primeiro álbum lançado em 1977, também é outro injustiçado pelo Rock n’ Roll Hall of Fame por ter demorado tanto para ser indicado.
O fato é que o Rock n’ Roll Hall of Fame comete essas “injustiças” todos os anos, indicando nomes proporcionalmente mais recentes de acordo com suas regras e ignorando grandes artistas/ bandas de um passado mais remoto – artistas/ bandas essas que influenciaram esses nomes agraciados com as indicações. Injustiças que eles tentam remediar com as indicações dos últimos anos.
Mais alguns exemplos? Vamos lá:
Lou Reed foi indicado ao Hall por sua carreira solo em 2015 – 43 anos após o lançamento de seus dois primeiros álbuns, o autointitulado Lou Reed e o histórico Transformer (ambos foram lançados em 1972).
Em 2014 foi a vez do Kiss, sendo que o disco de estreia dos caras pintadas foi lançado 40 anos antes
https://www.youtube.com/watch?v=D9AJUjlep4I
Após os fãs implorarem por anos, o Rush foi, afinal, indicado ao Hall em 2013 – alguém aí já ouviu/ se lembra do primeiro disco dos caras, de 1974 (o único com John Rustey na bateria)?
O que dizer da banda Small Faces? Os ingleses fizeram parte da famosa “Invasão Britânica” dos anos 60, lançando seu primeiro álbum em 1966, sendo que sua encarnação seguinte, The Faces, estreou em 1970. A indicação “dois em um”, no entanto, aconteceu somente em 2012 – 46 anos após o início da primeira encarnação do grupo ou 42 anos da segunda.
O cantor performático Vincent Damon Furnier batizou sua banda com o nome de Alice Cooper, que lançou o primeiro álbum, Pretties for You, em 1969, mas, ao longo da primeira metade dos anos 70, o cara passou a seguir carreira solo adotando o mesmo nome para si apenas – uma fase que teve início em 1975, com o reverenciado Welcome to My Nightmare. Mesmo que você considere apenas o seu “segundo começo”, Alice só foi indicado ao Hall em 2011, ou seja, 36 anos depois de ter nos apresentado seu pesadelo…
O baixista Chris Squire morreu sem ver sua banda, o Yes, ser indicada para o Hall da Fama – eles chegaram a ser cogitados em alguns anos, mas não foram nomeados até hoje. O primeiro álbum do grupo foi lançado em 1969.
De acordo com a própria instituição, “líderes na indústria da música se uniram em 1983 para formarem o Rock and Roll Hall of Fame Foundation. Uma das muitas funções da Fundação é reconhecer as contribuições daqueles que tiveram um impacto significativo na evolução, no desenvolvimento e na perpetuação do rock and roll por indicação ao Hall da Fama.” Ao considerar os grandes atrasos de inegáveis grandes astros do rock da mais alta relevância a serem nomeados (os nomes citados acima são apenas uma pequena amostra) em detrimento de outros nomes mais recentes por jogada política/ de mercado, já estava mesmo na hora de a instituição rever seus conceitos – algo que parece estar fazendo e remediando aos poucos.
A lista completa dos que já fazem parte do Hall da Fama está organizada em ordem alfabética. Consulte e diga nos comentários: quem mais você acha que está fazendo falta de estar nessas paredes?