Radiohead – A Moon Shaped Pool

Se tem uma coisa que o Radiohead sabe fazer é criar expectativas positivas a respeito dos lançamentos de seus álbuns. A rápida campanha que lançou seu mais recente hit, Burn The Witch, é uma prova disso: ao enviar uma misteriosa correspondência para as casas de alguns fãs com frases que correspondem a estrofes da música e, um dia antes da divulgação do clipe, “sair das redes sociais”, os ingleses criaram o burburinho ideal em todo o mundo para comentarem a respeito da música. Poucos dias depois foi lançado o novo trabalho, A Moon Shaped Pool, antes que o “hype” da sequência de ações esfriasse.

A pergunta é: será que o álbum atende às expectativas da propaganda que o antecede? Essa é uma questão mais difícil de responder do que parece, pois, com essas ações, o Radiohead se assume como uma banda “de propaganda” e, como toda propaganda, é direcionada para um público-alvo. E quem é o público-alvo do Radiohead nos dias de hoje? É aquele consumidor de música que vive antenado com as últimas tendências tecnológicas e comportamentais, sempre ligado nas redes sociais, interessado em antecipar o futuro e com a cabeça sempre à mil por hora, já que seu radar está (ou procura estar) sintonizado em centenas de coisas ao mesmo tempo. Esse público mantém uma relação com a música (mesmo sem querer admitir) muito superficial – para essas pessoas, a música é apenas “trilha sonora” ou “fundo musical” de sua vida ou suas atividades, quando não a usa como veículo para suas “viagens mentais”, acompanhadas ou não de entorpecentes à sua escolha. Vale dizer que tudo bem se você não se enquadra nesse perfil mas, mesmo assim, gostou do álbum.

Para esse público, A Moon Shaped Pool é perfeito. Seu clima onírico, etéreo e misterioso, misturado com elementos clichê da música pop (que dão, comercialmente, muito certo até hoje), resulta em 11 canções perfeitas para dar o “play” e deixar rolar enquanto trabalha ou dirige ou caminha ou toma seu latte na cafeteria… É um álbum que te embala suavemente, mas não incomoda. É preciso que você esteja prestando MUITA atenção para que ele consiga pegar a sua mão e te levar para algum lugar – um lugar de sonhos depressivos, intimistas, retraídos e um pouco góticos.

capa

O problema é que, mesmo quem gosta desse tipo de viagem musical já viveu passeios melhores em álbuns de outros artistas e até mesmo do próprio Radiohead. A “profundidade” das letras é falsa e o jeito de Thom Yorke cantar, intencionalmente despojado, torna-se sonolento, como se ele tivesse coisa mais interessante para fazer do que quase narrar aquelas estrofes desconexas, que se esforçam em fazer algum sentido ao se juntarem às melodias.

O álbum conta com músicas que foram apresentadas em shows entre 2009 e 2015, mas nunca foram gravadas em um álbum de estúdio até então, como Ful Stop, Identikit, The Numbers e Present Tense. Coincidentemente (ou não), essas estão entre as melhores da tracklist, mas mesmo esses títulos não fogem da produção cheia de fórmulas usadas em demasia pelo próprio grupo em seus outros trabalhos para tornar o álbum mais “fantasmagórico” sem importunar.

banda

Recursos já conhecidos pelos fãs como como ecos nas vozes e, principalmente nos backing vocals, frases ocasionais de piano misturadas com efeitos de guitarra ao fundo e andamento constante, monótono e quase sem variações são a tentativa de criar um clima de “filme de suspense” misturado com delírio e fatalidade, mas resultam apenas em insipidez. É como se fosse um encontro de U2 com Coldplay e uma pitada de Pink Floyd (que em nada combina com essa junção).

Enfim, A Moon Shaped Pool é um álbum voltado exclusivamente para dois públicos muito específicos: aquela parte dos “millennials” que não quer ser incomodada pela sua música ambiente particular e os fãs incondicionais do Radiohead que, desde o OK Computer, idolatram o grupo a aceitam de bom grado a dádiva de receber um novo álbum deles.

Radiohead
A Moon Shaped Pool
Selo/ gravadora: XL
Nota: 4