Em algum lugar de volta no tempo

Vou fazer uma camisa com os dizeres “Sobrevivi a um show do Iron Maiden na Apoteose”. Pode ser que eu esteja ficando velho demais para isso, mas show de grandes atrações na Marquês  de Sapucaí (RJ) é sempre garantia de muita muvuca e som de péssima qualidade. Que diga, então, quando se trata do Iron Maiden, uma das bandas mais queridas do mundo e unanimamente amada pelos rockeiros brasileiros, que não tocou aqui na Cidade Maravilhosa quando embarcou no país durante o ano passado, no começo da atual turnê? o show de ontem foi a forma que eles encontraram de compensar a falha na agenda.

A aventura até que começa tranqüila: os portões abriram às 18 horas, mas a galera só começou a entrar mesmo lá pelas 20h30, para o show que começaria às 21h. Chegando perto do palco, duas surpresas: a primeira delas é que, desde o show do The Police no Maracanã, os organizadores aprenderam a transformar o “gargalo” da pista em área VIP. Nós, plebeus, somos obrigados a ficar da torre de som pra trás, enquanto as pseudo-personalidades e fotografados profissionais da Caras, que ganham “cortesias” para comparecer a eventos grandes, e quem tem 350 contos para desembolsar num show fica nesse espaço privilegiado de assistir tudo de pertinho.

http://www.youtube.com/watch?v=Ph_R5duRC8w

A segunda surpresa é dar de cara com um pano gigante da capa do primeiro CD da cantora Lauren Harris no fundo do palco. Para quem boiou com essa informação, a garota é filha de Steve Harris, baixista e líder do Iron Maiden, que está dando aquela forcinha pra carreira da filhota, deixando ela abrir o show de papai. Foi meia hora com um sonzinho meia-boca, tipo uma Avril Lavigne mais pesadinha, com Lauren pagando de heavy metal com uma banda que parecia ter saído de um clipe do Poison no auge dos anos 80 (com exceção do baterista, que era o Murilo Benício de barba feita). Definitivamente não agradou a galera, sedenta por um estilo mais pesado de rock.

Iron Maiden AUSTRALIA

A galera já estava ficando impaciente quando as luzes se apagaram e começou a rolar o vídeo de abertura nos telões laterais do palco: cenas do sexteto chegando no Brasil e, de repente, imagens em preto-e-branco de aviões de guerra enquanto Winston Churchill fazia seu histórico discurso – era o sinal de que estava para começar a música Aces High, um dos maiores clássicos da banda! Logo no primeiro riff, a Apoteose veio abaixo, a galera ensandecida, pulando de um lado pro outro, gritando, se esgoelando e erguendo braços em uma euforia que poucas vezes vi em um show. Jovens, adolescentes, adultos, quarentões… Todos tinham a mesma idade naquele momento!

Mas como eu sabia que aquela gravação do discurso do Churchill era o prelúdio para Aces High? Porque eles fizeram a mesma abertura de show na turnê nos anos 80 – turnê que eles relembram agora, enquanto divulgam a coletânea Somewhere Back in Time, com os maiores sucessos da banda entre 80 e 89, ou seja, apenas os maiores “clássicos”! O palco estava todo decorado com ornamentos egípcios, clara referência ao disco Powerslave, e a banda prometia muitas referências a outros discos e turnês anteriores durante o show. Era um espetáculo para os fàs mais antigos e também para os novos, que viram tudo aquilo através de DVDs e gravações mais antigas.

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E era incrível como a galera conseguia energia pra se empolgar, superando as próprias forças para pular e gritar cada vez mais a cada música, principalmente quando o cantor Bruce Dickinson surgia no palco com uma fantasia diferente: seja fantasiado de “casaco vermelho” balançando a bandeira inglesa, tal qual o monstro Eddie na ilustração da música The Trooper, vestindo um manto negro e rasgado durante a gigantesca Rime of the Ancient Mariner ou usando aquela mascara animalesca ao cantar a música Powerslave. Os cenários gigantescos trocavam a cada música, mostrando uma das muitas versões do zumbi mais querido do Heavy Metal e a banda se sentia em casa, brincando com seus instrumentos e com o público sem parar de tocar com a maestria de quem tem 30 anos de estrada nas costas.

à medida que o show prosseguia, o “mar em fúria” de metaleiros que pulavam e gritavam começava a se acalmar um pouco e eu conseguia ir mais para frente para assistir melhor o show pelo telão e (ooh, que incrível) ver o próprio palco. Além do repertório, recheado de sucessos que eles não tocavam mais em shows desde os anos 80, o espetáculo visual cheio dessas referências foi uma emoção a parte – destaque para as duas aparições do monstrão-mascote da banda, Eddie, que surge na forma de uma múmia gigantesca saindo de dentro de um sarcófago ao fundo do palco, tal qual a turnê do já citado Powerslave, e do boneco de aproximadamente dois metros de altura do Eddie na versão ciborgue que estrela na capa do disco Somewhere in Time, apontando sua arma laser para o público e interagindo com a banda.

O empurra-empurra forte, o calor insuportável e um ou outro grupo de imbecis que nem sabiam direito o que estavam fazendo ali ajudaram a cansar, mas não foi nem de longe suficiente para acabar com a magia da noite ou com a alegria de ouvir Bruce dizer, ao fim do show, que eles estarão de volta ao Brasil em 2011 para a turnê do novo disco de estúdio que eles devem lançar até o ano que vem. Mesmo sentindo um pouco mais o peso da idade em relação aos outros espetáculos do Maiden que já presenciei em minha adolescência, continuo achando que um bom show é aquele em que você sai com as pernas doloridas de tanto pular, rouco de tanto gritar e com a camisa molhada de tanto suar. E foi assim que eu saí da Apoteose nesta madrugada de ontem para hoje. Feliz. Porque o rock não tem idade. E esta turnê de clássicos do Iron, uma verdadeira viagem no tempo, é a prova disso.

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