Então Roberto Medina, não satisfeito com o Rock in Rio, está criando outro megafestival. O tal Zytrons – Planeta de Andrômeda começa em 5 de outubro de 2018 no Parque Olímpico da Barra da Tijuca (RJ), dando início a três finais de semanas recheados de atrações voltadas ao público infanto-juvenil – e não são apenas musicais.
De acordo com o vídeo da coletiva que apresentou o tal planeta, o evento oferecerá a experiência de estar em outro mundo “onde só existe um país e um idioma, onde a lei é igual para todos, praticamente não há mais doenças e a linguagem que unirá a todos nós é a música e o amor”. Essa experiência é representada em inúmeras atrações como (preparados para contar?):
- Montanha com pista de neve
- Tirolesa
- “rua futurista cheia de produtos interessantes”
- Roda Gigante
- Montanha Russa
- Espaço para games
- Área VIP
- Arenas olímpicas
- Patinação no gelo
- Cirque du Soleil
- Exposições e debates sobre o futuro
- 24 mega-concertos (que ainda não foram anunciados quais serão)
Reparou que Zytrons não é, essencialmente, um festival de música, mas um festival de “experiências” e que as apresentações musicais são apenas mais uma delas? O Planeta de Andrômeda não está inovando em nada em sua essência: grandes festivais do Brasil como Rock in Rio e Lollapalooza também não oferecem mais apenas os palcos onde os grandes shows acontecem, mas também há brinquedos, tendas de assuntos diversos, espaços interativos… São praticamente feiras alternativas de cultura e comportamento – e são essas experiências (as “baladas” ou “rolês” ou seja lá qual for a gíria do momento) que fazem o jovem decidir-se se sai de casa e paga os ingressos de 3 dígitos altos ou não.
“Ah, Ock, você está exagerando! Não conheço ninguém que se interesse por essas atrações periféricas e só vai pra esses festivais para ver os shows”. Exatamente – essa é a realidade da sua bolha e da minha também, mas não se esqueça que boa parte (se não a maioria) dos ingressos para o Rock in Rio são vendidos antes mesmo de qualquer atração ser anunciada na forma do Rock in Rio Pass. Tem aqueles que confiam que o festival vai trazer alguma(s) atração(ões) de seu gosto, mas grande parte desse público quer marcar presença no local e “viver a experiência”
Tem (sempre terá) uma galera imensa que é fã de grandes artistas e viajarão de outros estados ou até de países próximos ao nosso até o Rio de Janeiro para assistirem aos shows, mas o que fará grande parte da galera do Rock in Rio Pass abrir sua carteira e sacar o cartão de crédito para pagar 500 Golpes (estou especulando o valor) em um ingresso não será o Bon Jovi ou a Beyoncé, mas a pista de neve e o espaço para games. É como se a música e as atrações musicais por si só não fossem suficientes para encher um evento desse porte como foram outrora.
É claro que mega-astros que estão na crista da onda como Lady Gaga, Metallica ou Foo Fighters são garantia de Maracanã lotado sem precisar de tirolesa como atrativo extra, mesmo com ingressos a quase mil Reais para área VIP – mas e os artistas de menor alcance? Mais ainda: e os artistas independentes? Que atrativos extras eles podem oferecer em seus shows para atrair um público que ainda não os conhece e, portanto, não sabe que podem conhecer suas próximas bandas favoritas? Como bem disse o pessoal do Mercúrio Cromo em entrevista ao Tock Independente, é muito mais confortável e barato para a pessoa curtir o som da banda independente pelo clipe ou lyric vídeo através do YouTube, com som de qualidade através do seu equipamento poderoso, do que se deslocar até uma casa de show e pagar 20 reais de ingresso para ver a banda ao vivo (não estou dizendo que é melhor, apenas que é mais confortável).
Bandas e casas de show do undeground têm a mesma reclamação: não há público interessado pura e simplesmente. As plateias das bandas alternativas são formadas, em grande parte, por parentes e amigos dos integrantes da banda e músicos de outros grupos que se interessam em ver o que ocorre no circuito – são raras as pessoas que vão a um Hangar 110 às cegas com o pensamento de: “não conheço essa banda, mas vou dar uma ouvida nela no Spotify e, se eu curtir, vou ao show para ver como eles são ao vivo”. A culpa disso não é das bandas; existem INÚMERAS bandas e artistas com trabalhos incríveis por aí – o Tock Independente é uma prova disso. A culpa também não é das casas de shows independentes, que lutam MUITO para cobrirem os custos de manterem um estabelecimento aberto e não faturam o suficiente para aumentarem ou melhorarem suas estruturas (e, ainda assim, tem espaços bem legais por aí).
O público geral coloca atrações musicais entre terceiro a quinto lugar no seu ranking de coisas que os fazem sair de casa. A “experiência de assistir a um show” não é suficiente. Não sem também ter uma roda gigante, uma montanha russa, food trucks, bebida e uma tenda de EDM rolando em paralelo. Se oferecer open bar a 100 reais na porta, o sucesso de público é garantido – se tiver um show de banda rolando, é bônus, mas se não tiver, tudo bem: uma playlist de Spotify tocando nas caixas de som já é suficiente.
O caminho rumo à resposta é longo e ainda não vejo o fim dessa estrada, mas um bom ponto de partida para bandas começarem a mudar a questão é: cuide bem do seu material e invista na publicidade / marketing. Se quisermos que cada vez mais pessoas vão aos nossos shows, devemos ter um material atraente para apresenta-los. Trabalhe bem as suas composições, grave suas músicas com qualidade em um estúdio profissional, faça o seu som circular por aí com boas campanhas (analise o preço de profissionais de marketing para isso), etc. Vai custar dinheiro? É claro que sim, mas isso é um investimento, e não perda de tempo.
Agora para o público: o que vocês podem fazer para ajudar as bandas independentes? A resposta é simples: VÁ AO SHOW! Ouça bandas novas independentes no Spotify ou no YouTube (a qualidade delas é equiparável a grandes nomes nacionais e internacionais) e, se curtiu algum desses sons, siga-as no Facebook e fique atento às datas de shows que elas divulgarão. Você ficará impressionado com a quantidade de sons incríveis que está acontecendo há poucas esquinas de sua casa, com um preço muito acessível. E te garanto: essas apresentações serão tão empolgantes que você não vai precisar de tobogã ou patinação no gelo para ter uma “experiência incrível”.