O fim da música?

Recebi de uma amiga um texto que Nelson Motta escreveu em sua coluna do jornal O Globo – o texto em si não pode ser lido no site por não-assinantes do jornal, mas Nelson aborda um assunto que eu e Leandro Bulkool já havíamos comentado por alto na Máquina do Tempo: a velocidade e quantidade de músicas de hoje em dia não dão mais espaço para que canções tornem-se “clássicas”.

Quando se fala em “clássicos do rock”, eu me lembro logo de grandes monstros do estilo: Beatles, Stones, Sabbath, Purple, Rush, Queen… No Brasil, as mais famosas dos anos 70 e 80, de Mutantes a Legião Urbana. É praticamente obrigatório ouvir obras como Sgt. PeppersSatisfaction,Smoke on the WaterParanoidTom SawyerLove of My Life entre tantas outras antes de morrer. Reparou, no entanto, como essas músicas são dos anos 80 pra trás? Não me lembro de outra música após Semels Like Teen Spirit, do Nirvana, que tenha virado o hino de uma geração ou movimento musical, algo que tenha unanimamente sobrevivido nos corações dos rockeiros após passar o calor da novidade de seu lançamento.

Quando eu era moleque, gravar uma música e entrar numa gravadora para fazer um disco era quase que entrar para uma seita secreta – ninguém fora do meio sabia direito como funcionava a coisa, de onde vinha o vinil que chegava às lojas. Na minha adolescência, os estúdios de gravação mais “fundo de quintal” (literalmente) cobravam suas horas em dólar e as bandas se viravam para conseguir gravar suas fitas Demo em K7 com qualidade para vender em seus shows. As inovações tecnológicas de hoje em dia permitem que qualquer um grave suas músicas com excelente qualidade em casa mesmo e a Internet, mais veloz que a luz, o pensamento ou a dor de barriga, espalhem sua obra para todo o mundo num piscar de olhos. Isso nos traz duas conseqüências:

  • Muita gente produzindo muita música ao mesmo tempo, de qualidade variada, gerando muito joio a ser separado do trigo
  • O “consumidor” de música, principalmente aquele que não conheceu o mundo sem Internet, passa a “consumir” em maior quantidade e sem prestar atenção em cada canção – é como se ele enchesse o garfo exageradamente e engolisse tudo sem mastigar ou mesmo querer saber direito o que está comendo. A música perdeu um pouco seu “estado de arte” e tornou-se cada vez mais um produto a ser… Como vou dizer… Consumido!

Esses dois fatores fazem com que a música torne-se rapidamente perecível – é preciso ouvir, conhecer e digerir rápido, porque vem muito mais música por aí para ouvir, conhecer e digerir! O agravante da moda (ou hype, já que é a palavra da… hã… moda) ainda faz com que várias músicas soem muito parecidas, pois seguem o estilo dessa moda. Não pense que isso está restrito ao rock não: a MPB, o samba, o funk carioca, o brega… Esses fatores afetam a todos, independente da sua preferência musical!

Amantes da música, segue aqui o conselho que eu mesmo venho tentando seguir: puxe o freio de mão. Descobrir novos sons é sempre legal, mais ainda quando é um som que você gosta. Sendo assim, curta esse som, deguste, saboreie, aprecie. Mamãe já ensinava que é feio encher a colher e a boca pra comer; siga os mesmos conselhos para seus ouvidos. Tem muita gente de talento naufragada nesse mar de música digital que podem ter mandado novos clássicos dentro de garrafas boiando por aí, sem chegar a lugar nenhum.

E aí? O que você está ouvindo agora?

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