A platina não é mais aquela

A primeira impressão que se tem do mercado fonográfico neste comecinho de 2010 é que ele deu uma “desinchada” em seus valores e lucros em comparação com sua situação de 10 ou 20 anos atrás. Até 2004, um artista ganhava o disco de ouro no Brasil quando sua obra vendia 100 mil cópias e o disco de platina quando as vendas chegavam a 250 mil. Hoje em dia, o disco de ouro é dado àquele artista que vende acima de 50 mil cópias e disco de platina, a partir de 100 mil.

Por aqui, algumas coisas ainda não mudaram depois de todo esse tempo como, por exemplo, o gosto da maioria da população. Os CDs de sertanejo, religioso e as trilhas sonoras de novela continuam sendo os mais vendidos – a dupla Zezé de Camargo e Luciano continua liderando as paradas populares, como fazem quase sempre desde o começo dos anos 90. Os padres e pastores do momento vem logo após. A diferença é que, em 2009, os irmãos venderam 218 mil cópias de seu último CD. Não dá nem para o cheiro, comparado com as 950 mil unidades do disco que eles lançaram em 1993, por exemplo. Eles perderam o jeito de cativar o público brasileiro? Não: este público é que está consumindo música através de outros meios.

A Associação Brasileira de Produtores de Discos confirmam que o CD ainda é responsável pela maior parte do faturamento (61%), seguido pelo DVD (27%) e, por fim, da música digital (12%). Esta última forma de comercialização de música tem crescido bastante no Brasil – de 2006 para 2007, por exemplo, o comércio de música digital cresceu 185%, grande parte por conta da venda de músicas através de serviços de operadoras de celular, sem contar o crescimento considerável de venda de música através da Internet. A classe C, cada vez mais representativa na economia brasileira, demonstra intimidade com o celular desde que o aparelho telefônico portátil tornou-se mais acessível ao bolso de todos e a mesma coisa está acontecendo com a Internet: as lojas de eletrônicos como Casas Bahia, Ponto Frio e afins oferecem computadores a prestações que cabem no bolso de todos, a banda larga está cada vez mais barata e projetos de “banda larga popular” já em início de execução em vários estados não faltam, mostrando que, em algum tempo, serviço de Internet de pelo menos 1 mega de velocidade será um corriqueiro recurso em todo apartamento e casa, tal como água, luz e gás. Isso significa que a classe C, mais ávida consumidora de música no Brasil, terá cada vez mais acesso à música de forma digital, consolidando o cenário do crescimento do mercado de música digital.

É claro que tudo isso também fomenta o cenário do que as gravadoras chamam de “pirataria digital”, mas isso é assunto que já foi discutido em outros textos deste blog e será novamente em outras oportunidades – isso, porém, não muda o fato de que o mercado está mudando a forma como as gravadoras comercializam seu principal produto, a música, através da diversificação da divulgação das obras de seus artistas, sem falar que os artistas independentes, se assim preferirem, podem por a mão na massa para divulgarem seus trabalhos sem obrigatoriamente precisarem de uma major para entrar na jogada.

O mercado fonográfico, que vem sofrendo uma gigantesca metamorfose desde o surgimento do Napster, em 1999, começa a mostrar os primeiros traços de sua nova forma. Muita briga ainda vai acontecer por conta da pirataria, das gravadoras e do tráfego livre de música digital, mas podemos ver um lampejo ao fim do túnel. Espero estar vivo para testemunhar a cara do novo mercado fonográfico quando ele sair de seu casulo.

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