O tempo muda as pessoas – e as emissoras também

Como jornalista interessado na música contemporânea e na cultura pop, vejo-me obrigado pela profissão a acompanhar certos eventos que não condizem com meu gosto pessoal – um deles, sem dúvida, é o Video Music Awards, a premiação máxima da MTV americana que reconhece os artistas de maior sucesso de sua programação durante o ano. E não teve pra ninguém em 2010: Lady Gaga cumpriu seu papel de favorita e levou os maiores prêmios da noite como melhor clipe feminino, melhor clipe pop, melhor clipe dance, melhor coreografia, direção, edição e melhor clipe do ano (todos para Bad Romance). Eminen também volta às luzes da ribalta ganhando o melhor clipe masculino (Not Affraid) e toda galera do rap/ hip hop/ R&B e afins esteve lá também enquanto o meu querido rock n roll tornou-se uma categoria à parte, representada pela banda 30 Seconds to Mars, que levou o troféu com o clipe de Kings and Queens. A lista completa dos ganhadores de cada estatueta, você confere clicando aqui.

É estranho dizer isso, mas eu já gostei muito da MTV. Essa estação já foi minha favorita e, diabos, a única emissora que eu assistia durante muitos anos de minha adolescência. Eu tinha apenas 15 anos quando a mesma iniciou suas transmissões no Brasil em 1990, dividindo  o canal 9 com outra emissora, a TV Corcovado. De meio-dia às duas da manhã, a música tomava conta, capitaneada pelos primeiros VJs brasileiros da história da emissora trazendo de tudo: rock, rap, dance, alternativo, música brasileira… Fosse qual fosse seu gosto, havia algo para você em algum momento da programação. E eu adorava aquela salada de estilos. Naqueles anos em que Internet e TV à cabo ainda eram coisa de ficção científica na ilha de Vera Cruz, a MTV era a fonte de novos sons.

O tempo passou. Eu envelheci e deixei de ser o público da emissora, que sempre fez muito bem o trabalho de se renovar para atender à geração de jovens que vinha logo atrás. É isso que a MTV é, desde que entrou no ar pela primeira vez: um reflexo dos gostos e da forma de pensar dos jovens, uma lente por onde vemos o modo como a garotada enxerga o mundo e lida com ele. Nesta noite de gala, experimentei novamente essa lente que havia abandonado há anos atrás e não gostei do que enxerguei através dela.

Ao ligar a TV, peguei o finalzinho do programa Comédia MTV antes de começar as transmissões do evento que aconteceu em Los Angeles. Durante os comerciais, várias chamadas da versão brasileira da permiação, o Video Music Brasil, com categorias e os indicados nelas (Fresno, Restart, Sandy e Pitty foram os mais citados). Posso estar sendo precipitado, mas por essas “pílulas”, tive a impressão de que a MTV tornou-se não apenas uma emissora jovem, mas uma emissora de apenas um nicho da juventude brasileira, que curte apenas um único estilo de som e humor e comportamento e ignora todos os outros. Ou será que eu é que estou sendo otimista demais em não pensar que a esmagadora maioria dos jovens pensa daquele jeito que a Music Television Brasil me mostrou nessas duas horas de noite de domingo para segunda?

De qualquer forma, termino essa noite com um gosto amargo na boca. Sinto-me como se tivesse encontrado uma ex-namorada de muitos anos atrás e, ao vê-la hoje, tudo que passa pela minha cabeça é “meu Pai, como é que eu pude, um dia, me apaixonar por alguém ASSIM???”. Os vínculos com aquela pessoa não existem mais e as mudanças que sua personalidade sofreu a transformaram em alguém totalmente estranho para minha atual realidade. Tenho certeza de que a recíproca é verdadeira.

Adeus, MTV. Nosso namoro foi muito bom enquanto durou e guardo com carinho as lembranças daquilo que você um dia já foi. Espero que seja feliz no caminho que trilha agora – um caminho que trilha sem mim.

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