Quem disse que David Bowie morreu?

Eu e minha esposa estávamos no meio de uma viagem de férias quando, na manhã de 11 de janeiro, o mundo veio a saber do falecimento de David Bowie na noite anterior. Nós só voltaríamos à civilização três dias depois, mas o restante do passeio ficou com um gosto amargo para nós dois. A patroa, fã do camaleão, ficou chocada, enquanto eu… Simplesmente não consigo processar essa informação até agora.

É claro que adoro a obra do artista e estava louco para ouvir o belamente estranho Blackstar quando regressasse à São Paulo (um lindo bilhete de Adeus, diga-se de passagem), mas a questão é que David Bowie não morreu. Calma, antes que você pense que eu apresentarei teorias da conspiração de que ele, na verdade, forjou sua própria morte e está por aí, rindo de tudo que estamos falando a seu respeito, não é nada disso. Eu explico.

https://www.youtube.com/watch?v=cYMCLz5PQVw

Desde o segundo álbum de sua carreira, o emblemático Space Oddity, David Robert Jones abandonou sua persona de carne e osso para tornar-se um conceito – não apenas no mundo do rock, mas na cultura pop. “Bowie” tornar-se-ia sinônimo de tendência, de vanguarda, de algo a ser seguido e imitado e observado e estudado a cada aparição. E foi exatamente isso que aconteceu: as letras e os sons de suas músicas inspiram, até hoje, centenas de artistas em todo o mundo – de The Cure a Marilyn Mason, passando por uma infinidade de outros estilos do pop, do glam, do hard rock e até do Metal entre outros movimentos que ele mesmo deu início. Os discursos e visuais de seus personagens (Seja Zggy Stardust, o Thin White Duke, o Bowie experimental da era de Berlim, o da fase Tin Machine ou o black-tie eletrônico) nos deram modas, gírias e comportamentos que usamos até hoje sem que sequer saibamos que foram de sua criação, pois eles foram usados e reusados e referenciados por inúmeras fontes da cultura pop ao longo das décadas. Mesmo que você nunca tenha ouvido falar de David Bowie, existe um pouquinho dele no seu cotidiano.

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De Ziggy Stardust ao “Lazarus” de seu último clipe, todos os personagens criados por David foram/ são marcantes e atravessam gerações

Por isso é mais fácil aceitar a morte de qualquer outro ícone do rock como Elvis, Freddie Mercury, Lemmy ou qualquer um dos Beatles ou Stones (que já se foram ou ainda irão), pois sabemos que, no fim, todos eles são “Deuses que andam entre nós”, mas David, em vida, já transcendia isso. Ele nos deu uma ideia chamada Bowie – e ideias não morrem.