“Emperor of Sand” não atende às expectativas dos fãs do Mastodon – e isso é bom

Sentimentos conflitantes podem surgir nos corações dos fãs de Mastodon após ouvirem pela primeira vez o novo álbum da banda, Emperor of Sand. Não que ele seja ruim – pelo contrário, está excepcional como sempre – mas algumas “fórmulas” repetidas ao longo do trabalho, aliadas a melodias mais “pop” nas primeiras faixas podem fazer alguns narizes torcerem de início.

Desde The Hunter, de 2011, o quarteto de Atlanta formado por Brann Dailor (bateria, voz), Brent Hinds (guitarra, voz), Bill Kelliher (guitarra) e Troy Sanders (baixo, voz) vem modificando a sonoridade do grupo, tornando-a mais melódica, progressiva e experimental, mas sem perder o peso do thrash metal que os tornaram reconhecidos desde o início. Essas novas características tornaram-se ainda mais evidentes no excelente Once More ‘Round The Sun, de 2014, rendendo elogios diversos de crítica e público. Parece que eles estão no caminho certo, então, por que mexer em time que está ganhando?

O raciocínio tem lógica, mas coração de fã, não. A expectativa era de que, embora Once More ‘Round The Sun tivesse caído nas graças dos fãs, o Mastodon fizesse uma espécie de “volta às origens” com Emperor of Sand, o que não aconteceu. Eles até enganaram algumas pessoas (mas não muito) quando adiantaram o single Sultan’s Curse em janeiro, que abre os trabalhos muito bem na bolacha.

A partir daí, o disco descamba para uma sonoridade mais pop em se tratando de Mastodon, com faixas como Show Yourself e Steambreather, mais parecendo material do Gone Is Gone (projeto musical que Troy Sanders participa – leia a crítica sobre o álbum de estreia deles) do que da banda cujo álbum estamos ouvindo.

O peso e a sonoridade “das antigas” volta a dar as caras timidamente em em Roots Remain e Word To The Wise, mas é com o punch de Clandestiny e o riff estranho de Andromeda que acordamos e prestamos mais atenção no registro, pensando “agora sim, estou ouvindo Mastodon”!

O produtor Brendan O’Brien, que já trabalhou com o grupo no álbum Crack the Skye, de 2009, deixou a mão mais leve neste trabalho, mesmo que não pareça quando ouvimos faixas como a pesada Scorpion Breath, que quase fecha o disco com chave de ouro, dando lugar para a complexa Jaguar God, que torna-se matadora ao final. Essas passagens mais agressivas em algumas músicas, no entanto, não tiram o gosto meio amargo que as faixas mais “comerciais” do início do álbum deixaram.

O fato é que, ao contrario do que os fãs queriam, Emperor of Sand não marca o início de uma nova fase do Mastodon: é apenas mais um álbum pertencente à atual fase mais experimental, progressiva e, por que não dizer, “palatável” do que seus primeiros trabalhos. Nem mesmo é um álbum tão marcante quanto Once More ‘Round The Sun, mas está bem longe de ser um disco ruim. Se gostou dele de primeira, parabéns: você entendeu o que a banda queria apresentar aqui; se algo ainda lhe soa estranho, dê um tempo a ele. Deixe-o na estante por alguns meses ou mesmo por um ano antes de voltar a ouvi-lo, sem a pressão da expectativa ou qualquer esperança depositada e de mente aberta. Garanto que será uma grata surpresa descobrir sons que seus ouvidos não captaram agora.

Mastodon
Emperor of Sand
Gravadora/ selo: Reprise
2017
Nota: 6,5