Record Store Day: a hora e a vez das lojas independentes

Enquanto isso, no Brasil (parte 3)

O pessoal da loja The Records, de São Paulo, é quem está armando o maior evento entre os que participantes brasileiros do Record Store Day. Além de uma festa na loja especializada em vinil de punk e hardcore, o fotógrafo e um dos donos, Mateus Mondini, de 27 anos, anunciará o resultado da rifa que eles estão promovendo, onde darão os Test Press do LP split Cólera e Ratos de Porão, um dos maiores clássicos do punk brasileiro. “Test press são os discos (normalmente cinco) que a fábrica de vinil manda pra você aprovar antes de mandar os mil discos pra prensa”, explica Mateus, que tem ainda mais planos para o próximo 16 de abril e espera que tudo dê certo para anunciar uma grande surpresa durante o evento.

Mateus e seus sócios, Alemão e Kalota, nadam contra a maré apostando na recém inauguração de uma loja de vinil de bandas novas e antigas de punk rock e hardcore, com discos novos e usados, nacionais e importados. Mas esta visão não fecha os olhos de Mondini para a Internet como ferramenta de busca por novos sons. “A loja tem só cinco meses. Acho a internet uma ótima ferramenta para conhecer bandas novas e obscuridades antigas, eu sempre baixo bandas que não conheço e, se gosto, vou atrás do disco.”

Os frequentadores da The Records têm de 20 a 50 anos, e são geralmente membros de bandas, donos de selo, pessoas que vão a shows e colecionadores de discos. A loja fica tão movimentada que Mateus quase não teve tempo de conceder essa entrevista. “Sempre que estou na loja, tem alguém aqui trocando idéia. Acho que a importância de lojas como a The Records é ser um ponto de encontro, um lugar agradável onde, além de comprar discos, você pode trocar os discos que não escuta tanto ou vender seus discos porque está precisando de grana, conversar, divulgar shows de sua banda e conhecer bandas que, talvez, se ficasse só em casa, baixado MP3, nunca iria conhecer. Por exemplo, um cara vem comprar um LP do Stiff Little Fingers (banda clássica do punk irlandês) e eu mostro o LP do Protex (banda da mesma aérea, mesma época, mesmo estilo, só que mais obscura).”

O carioca Luiz Eduardo de Araújo não é tão novo quanto a paulista The Records, mas, aos 30 anos, adotou recentemente o esporte de caçar raridades em lojas independentes. “Frequento há pouco tempo, aproximadamente um ano. Antes apenas as grandes lojas e internet. Costumo ir a uma pequena loja aqui no Rio que fica na Rua do Rosário, quase Primeiro de Março. Ela costuma ter umas raridades e com bons preços. Para comprar vinis, sempre procuro em sebos e nas feiras de vinis que ocorrem no Rio.”

A coleção de Luiz Eduardo já possui em torno de 150 CDs e 20 LPs. Ele procura manter sua média de compra de quatro títulos por mês. “Penso que a loja independente é um reduto de quem procura um algo a mais. O cliente das lojinhas vai atrás de coisas raras… Digo que hoje, colecionar discos (CDs ou vinis) é como colecionar obras de arte. Muitas vezes você nem compra pelas músicas em si, mas mais pelo encarte, pelo objeto físico.”

Assim como os outros clientes das lojas independentes, Luiz nunca havia ouvido falar no Record Store Day até então, mas gostou muito da iniciativa. “Nunca tive conhecimento do movimento. Acho bacana, pois é uma forma de manter viva a arte de colecionar discos.”

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *